Dedos congelados no frio?

Frio chegando e uma síndrome bastante curiosa afeta 3% a 5% da população mundial, deixando extremidades (pontas dos dedos, nariz, orelhas e até língua) esbranquiçadas ou azuladas, dormentes, com formigamento e dor. É a chamada síndrome de Raynaud, que afeta o sistema circulatório, levando à constrição das pequenas artérias. É, portanto, considerada uma doença arterial periférica funcional.

Nessa síndrome, os vasos que irrigam as extremidades se contraem ao receber estímulos de frio. Pessoas que vivem em locais com invernos bem demarcados ou que se expõem a temperaturas mais frias (ao lavar louça com água fria ou manusear gelo, por exemplo) podem apresentar a síndrome de Raynaud. Nesses casos, o sangue não consegue chegar ao destino, gerando sintomas como descoloração ou cianose (cor azulada ou arroxeada em razão da falta de oxigênio). Os episódios dolorosos costumam durar algumas horas e, depois, a circulação passa a se normalizar.

A síndrome de Raynaud parece ser consequência de uma resposta vascular exagerada. Qualquer fator que estimule a rede simpática do sistema nervoso autônomo – principalmente a exposição ao frio ou uma emoção forte – pode levar à contração das artérias, desencadeando os sintomas desconfortáveis da doença, que é mais comum em pacientes do sexo feminino, mas também pode afetar homens. Aproximadamente 60% a 90% dos casos da síndrome de Raynaud primária (que não ocorre concomitantemente a outra enfermidade) acometem mulheres com idade entre 15 e 40 anos.

O diagnóstico médico geralmente é clínico e feito com base nos sintomas referidos pelo paciente. De modo geral, pessoas que apresentam os sintomas descritos devem se consultar com um reumatologista. Quando necessários, os exames são voltados a distinguir entre as tipologias primária e secundária:

• Primária (também chamada doença de Raynaud): quando não há causa aparente. É o tipo mais comum, perfazendo aproximadamente 80% dos casos.

• Secundária (ou fenômeno de Raynaud): acompanha outros distúrbios, principalmente relacionados ao tecido conjuntivo. Nesses casos, é possível identificar uma doença subjacente – pode ocorrer em pessoas com aterosclerose; crioglobulinemia; lesões; lúpus; síndrome de túnel do carpo; reações a substâncias (incluindo medicamentos contra enxaqueca); artrite reumatoide; hipotireoidismo e esclerose sistêmica.

As formas primária e secundária são diferenciadas de maneira clínica e comprovadas por estudos laboratoriais vasculares e exames de sangue.

Se os médicos suspeitarem de que uma artéria esteja bloqueada, uma ultrassonografia Doppler pode ser feita antes e após a exposição ao frio. Em pessoas com síndrome de Raynaud, o fluxo sanguíneo e o diâmetro dos vasos diminuem mais do que em indivíduos sem o distúrbio.

Sinais e sintomas do fenômeno de Raynaud

As sensações de frio, queimação e dormência e as mudanças na coloração (de um ou mais dedos) são ocasionadas por exposição ao frio, estresse emocional ou vibração e podem ser revertidas com a simples remoção do estímulo. O reaquecimento da área afetada acelera a normalização da cor e das alterações sensoriais.

Normalmente, a síndrome de Raynaud afeta os três dedos médios e, raramente, o polegar. O vasoespasmo pode durar de minutos a horas, mas raramente é grave o suficiente para causar perda tecidual no caso da síndrome de Raynaud primária. Já a secundária pode progredir para gangrena digital dolorosa. Mais especificamente, a relacionada à esclerose sistêmica pode ocasionar úlceras bastante dolorosas e infectadas nas pontas dos dedos.

Pontas dos dedos com cianose. Fonte: MSD Manuals.

Pontas dos dedos exibindo palidez. Fonte: MSD Manuals.

Tratamento

O principal tratamento consiste em evitar os fatores desencadeantes – como a exposição ao frio –, proteger-se utilizando luvas e meias e gerenciar o estresse. Entre outras medidas, recomenda-se evitar o consumo de nicotina ou de estimulantes. Parar de fumar é fundamental para controlar os sintomas, uma vez que o tabagismo pode reduzir o fluxo sanguíneo para as extremidades.

Outras opções de tratamento incluem medicamentos vasodilatadores, que ajudam a relaxar os vasos sanguíneos e a melhorar a circulação, e terapia ocupacional, que ensina técnicas para manter as mãos e os pés aquecidos.

Temperaturas frias potencializam os episódios sintomáticos do fenômeno de Raynaud. Fonte: Sociedade Catarinense de Reumatologia.