Diverticulite intestinal

Considerada uma doença da civilização ocidental, a diverticulite afeta principalmente pessoas cuja dieta é rica em carboidratos refinados e pobre em fibras.

SAÚDE

11/2/20246 min read

Divertículos são pequenas bolsas que se desenvolvem por protrusão da camada interna do intestino em razão de fraqueza da parede muscular, principalmente no cólon (porção final do intestino grosso).

Nessa situação, as finas camadas internas do órgão acabam projetando-se através desses pequenos “defeitos”, formando essas pequenas bolsas (divertículos). Quando há presença de diversos divertículos, fica caracterizada a diverticulose.

Já a diverticulite é a inflamação de um ou mais divertículos do intestino e pode ocorrer com ou sem infecção (presença de bactérias ou outros micro-organismos).

É um quadro mais comum em indivíduos com idade superior a 40 anos. Entre as pessoas com mais de 50 anos, ocorre com mais frequência em mulheres. Já entre indivíduos com idade inferior a 50, atinge principalmente os homens. Além disso, é mais comum entre pessoas brancas.

Normalmente, a diverticulite é consequência do envelhecimento, que leva à perda da elasticidade da musculatura intestinal, favorecendo o acúmulo de pequenos pedaços de fezes no local (e, consequentemente, a inflamação dos divertículos).

Além disso, pode acometer indivíduos que tomam corticosteroides ou outros medicamentos depressores do sistema imunológico, como é o caso de pacientes com infecção por HIV ou que recebem quimioterapia. Isso porque a baixa imunidade eleva o risco de infecção, incluindo de cólon.

Imagem exibindo divertículos do intestino grosso e quadro de divereticulite
Imagem exibindo divertículos do intestino grosso e quadro de divereticulite

Quais são as causas da diverticulite?

Considerada uma doença da civilização ocidental, ela afeta principalmente pessoas cuja dieta é rica em carboidratos refinados e pobre em fibras.

De acordo com matéria publicada no site do Hospital Sírio-libanês, nos países da África e da Ásia, regiões cujos habitantes mantêm dietas ricas em fibra e baixo consumo de carboidratos refinados, a incidência de diverticulite é pequena. O texto menciona ainda uma pesquisa, feita entre a população japonesa, na qual se identificou que apenas 18% dos japoneses que vivem no Japão apresentam a condição, mas que esse número subia para 50% entre os japoneses que se mudaram para o Havaí e adotaram hábitos alimentares ocidentalizados.

Esses dados apontam para a estreita relação entre a dieta e o aparecimento de quadros de diverticulite.

Além da dieta pobre em fibras e rica em alimentos processados, gorduras e carboidratos refinados, outros fatores elevam o risco de desenvolvimento de divertículos e dos processos inflamatórios associados a eles. Entre esses fatores, destacam-se o sedentarismo, o histórico familiar e o mau funcionamento intestinal (constipação e trânsito lento). A prisão de ventre crônica, por exemplo, leva à formação de fezes pouco hidratadas, aumentando a pressão no intestino e favorecendo a inflamação dos divertículos.

Fatores como pouco exercício físico, obesidade, hidratação deficiente, tabagismo e uso constante de medicamentos (especialmente esteroides, opioides e anti-inflamatórios, como ibuprofeno e naproxeno) também figuram entre as causas da diverticulite.

Exemplos de junk foods
Exemplos de junk foods

Alimentos ricos em gorduras e carboidratos refinados (as famosas "junk foods") predispõem o organismo às crises de diverticulite.

Estágios da doença

Na maioria das vezes, o quadro é assintomático e chamado de diverticulose quando o diagnóstico mostra a presença dos divertículos. Uma vez que essa condição não desencadeia sintomas, o diagnóstico normalmente acontece como um achado em um exame (colonoscopia ou tomografia) de rotina.

A maioria dos pacientes permanece sem sintomas durante toda a vida. Quando estes aparecem, manifestam-se na forma de cólica do lado esquerdo do abdômen, gases, inchaço e prisão de ventre.

Mulher com a mão no estômago indicando dor abdominal e prisão de ventre
Mulher com a mão no estômago indicando dor abdominal e prisão de ventre

Alguns dados importantes:

  • Cerca de 80% dos pacientes com divertículos no cólon não têm nenhum sintoma (condição chamada de diverticulose);

  • 10 a 25% dos pacientes que apresentam diverticulose podem desenvolver diverticulite;

  • Um a cada cinco pacientes que têm diverticulite aguda não complicada pode apresentar uma ou mais crises no decorrer da vida.

Principais sintomas

Como vimos, a simples presença de divertículos intestinais costuma não gerar sintomas. Entretanto, algumas vezes, alguma dessas bolsas pode inflamar e causar sintomatologia, como:

· Dor abdominal (principalmente na porção inferior esquerda do abdômen), que pode ser constante ou persistir por muitos dias;

· Períodos de diarreia e/ou prisão de ventre;

· Enjoo, náuseas e vômitos;

· Febre;

· Calafrios;

· Sangue nas fezes;

· Perda de apetite.

médico palpando o abdômen de paciente do lado esquerdo
médico palpando o abdômen de paciente do lado esquerdo
Menina segurando garfo com alimento, mas sem apetite
Menina segurando garfo com alimento, mas sem apetite

Dor do lado esquerdo do abdômen

Perda de apetite

Atitudes que afastam o risco

Listamos, a seguir, algumas recomendações da médica gastroenterologista Elaine Moreira para afastar o aparecimento da diverticulite, que foram publicadas na página do Hospital Sírio-libanês.

  1. Tenha uma dieta rica em alimentos com fibras, que ajudam a formar o bolo fecal, como frutas, em especial as que têm bagaço, como a mexerica, ou as que podem ser consumidas com a casca, como as uvas.

  2. Legumes, como brócolis, e verduras, como rúcula, alface e espinafre, também são classificados como alimentos ricos em fibras e, por isso, devem fazer parte da dieta de todo mundo. Coma todos os dias!

  3. Mantenha o peso adequado.

  4. Beba, em média, dois litros de água por dia, o que, entre outros benefícios, evita o intestino preso.

  5. Invista nos exercícios físicos. Vale até mesmo caminhar por pelo menos 15 minutos, desde que seja todo dia.

Exames para o diagnóstico preciso

A diverticulite pode ser confirmada por meio de exames como ultrassonografia de abdômen, tomografia computadorizada e exames de sangue (hemograma) e de urina para o diagnóstico diferencial. Além desses, o médico pode solicitar colonoscopia, que ajuda a identificar a localização do divertículo inflamado (esse exame percorre todo o intestino grosso e tem a vantagem de avaliar a mucosa com maior precisão, afastando outras alterações, como pólipos e tumores). Já o enema opaco consiste na introdução de contraste e ar pelo reto. Depois, são feitas várias radiografias para saber como estão distribuídos os divertículos no cólon.

Vale ressaltar que tanto o enema opaco quanto a colonoscopia só devem ser realizados 45 dias após o término da crise, para evitar o risco de disseminação da infecção.

A tomografia computadorizada é o exame de imagem mais indicado para o diagnóstico de diverticulite aguda, pois permite ao médico radiologista identificar o divertículo inflamado e eventuais complicações, como abscessos e perfurações. A tomografia gera imagens de alta resolução, com reconstruções em diversos planos, além de possibilitar ao profissional fazer o diagnóstico de outros distúrbios cujos sintomas se assemelham aos da diverticulite, como cálculo no ureter, apendicite aguda e câncer de cólon.

Como é feito o tratamento?

O tratamento para a diverticulite aguda deve ser orientado pelo médico gastroenterologista, levando em conta a intensidade dos sintomas e as causas da inflamação.

Entre os principais tratamentos para diverticulite, estão:

  1. Uso de antibióticos orais: para tratar ou prevenir o desenvolvimento de infecções.

  2. Alimentação líquida: nos primeiros três dias, deve ser líquida. Só depois podem-se adicionar, gradualmente, alimentos sólidos, para não aumentar a pressão dentro do intestino. À medida que a inflamação e os sintomas vão diminuindo, o paciente deve introduzir nas refeições alimentos ricos em fibras, como frutas e vegetais frescos ou cereais integrais.

  3. Internação hospitalar: no caso de diverticulite aguda complicada, é importante o acompanhamento do paciente em ambiente hospitalar para a administração de antibióticos, analgésicos e soro, bem como para melhor avaliação da possibilidade de cirurgia.

  4. Cirurgia: pode ser realizado procedimento cirúrgico de punção (para drenagem de pus) ou de retirada da parte prejudicada do intestino.

As alternativas de procedimentos dependem da gravidade do quadro. Nos casos de perfuração intestinal, cirurgia de emergência deve ser realizada.

Uma vez que a diverticulite costuma apresentar recidivas frequentes, pode ser necessária cirurgia após quadros recorrentes.

a person with a stomachache and stomachaches
a person with a stomachache and stomachaches

Divertículos: pequenas projeções do intestino na forma de bolsas (à esquerda). Diverticulite: quadro de inflamação dos divertículos (à direita). Fonte: www.vuelopharma.com/o-que-e-diverticulite/.